PELA JANELA

by 21.5.14 2 comentários


Pedro acorda às quatro da manhã,
Nem é dia
Toma banho, escova os dentes e sai 
Com a mochila nas costas e a barriga vazia

Pela janela passa o sertão
O gado magro, sem pasto
Falta água pra plantação
Falta assistência, falta feijão
Mas não falta vontade
Isso não falta, não

Vontade de crescer na vida,
De ajudar seus pais e sua gente
Que sente tanto a vida sofrida
Que enxuga o pranto das dores que sentem

Pela janela passa a cidade
O povo pobre, os barracos
Falta esgoto pra população
Falta saúde e educação
Mas não falta esperança
Isso não falta, não

Esperança que tudo um dia vai mudar
Que as orações serão atendidas
E Nossa Senhora há de os ajudar
A resgatar o que lhes resta da vida

Pela janela passa o trabalhador
Com a enxada nas costas e a marmita na mão
Falta dinheiro no bolso
Falta emprego e atenção
Mas não falta suor
Isso não falta, não 

Suor dos sóis de meio dia
Dos calos das mãos que contam
Uma vida sem regalias
Muitas vidas que se lamentam

Pela janela passa o poder
As mansões com piscinas, ostentação
Sobra luxo e arrogância
Sobra crédito no cartão
Mas não sobra decência
Isso não sobra, não

A decência de ser solidário
De olhar por aqueles que padecem
A decência de representá-los
Dar a eles o que merecem
De parar com a corrupção
E devolver todo o pão
Ao povo que tanto se esquece
Que no dia da eleição
Quem tem o voto nas mãos 
É quem o futuro escreve

Pela janela passa o portão
E já é hora de entrar
Pois pra crescer na vida
Pedro tem que estudar.

Girotto Brito

Escritor

Poeta e contista, autor do livro "Os três lados da moeda: vida e morte em poesia" e colaborador em diversas antologias de contos.

2 comentários:

  1. Parabéns Dênis,

    Belíssimo poema, emocionante... :)

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  2. Cara, muito bom mesmo. Gosto das suas poesias pela simplicidade e a forma como trata temas cotidianos. É muito prazeroso ler poesias assim. Grande abraço!

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